domingo, 2 de novembro de 2008

Uma vez me perguntaram "homens falam que gostam assim, facilmente?". Eu não soube exatamente a resposta mas me fez parar para pensar. E mulheres, falam que gostam assim, facilmente? E os casados, os pais, os amigos... falam que gostam assim?

Ninguém na verdade fala assim, facilmente. Comumente colocamos as palavras à frente dos nossos reais sentimentos, verbalizando aquilo que estamos pensando e não o que realmente estamos sentindo. E tão comumente quanto, nós demonstramos nosso real sentimento com o toque, com o olhar... Ah o abraço: quantas vezes você foi abraçado por alguém e aquilo valeu mais que todas as palavras ditas durante uma vida inteira?
Aqueles olhares trocados significaram tanto para mim que hoje mudo minha crença pueril nas palavras e me volto para as atitudes. Aquela crença vinha sempre associada a um caráter somado à grande possibilidade das ações completarem tais palavras, porém muitas vezes isso não acontecia. Fui refém de minhas próprias palavras e alguma falta de ação, resultando em sofrimento alheio. Erro crasso: se os políticos abusam da palavra fácil sem ações, porquê confiar tão cegamente?

É fácil meu amigo, é fácil. É fácil dizer, escrever, desenhar coisas quando simplesmente se quer deixar um registro, mas se torna difícil quando nosso corpo não acompanha tal registro recém-publicado e este diz completamente o contrário. É fácil apontar o dedo e dizer "foi você" quando esse mesmo dedo treme de pavor em ser descoberto, assim como é fácil afirmar "está tudo bem" quando nossos olhos marejados se preparam para desabar ao primeiro movimento de esconder o rosto.

Eu passei a gostar de novo de você naquela noite. Saindo do hospital o chão já não era mais uma base e eu caminhava lentamente sem saber o que sustentava meus passos. Gostaria muito que estivesse chovendo para que eu pudesse sentir minha pele contra as gotas, mas não: fazia um calor propício para uma noite com amigos e eu só queria a chuva fria. Chave na porta, luz do teto, senta no banco e fecha a porta. O alarme do carro tocou me fazendo acordar para a realidade e chorar por ter redescoberto ela, e quinze minutos mais tarde veio o segurança dizendo por favor para que eu desligasse o alarme. Eram 02:32 da manhã.
Eu realmente não me lembro como cheguei no meu apartamento... o que lembro? Bem, lembro que quando desliguei o carro, já estacionado, não consegui me controlar e chorei novamente como que tentando extirpar aquela dor só com lágrimas. E você de repente (não sei da onde) entrou no banco do passageiro e me fez pausar o choro instantaneamente. Me encarava com olhos fortes e seguros e ao me tocar e puxar para seu abraço desfez aquela pausa, deixando seu corpo meu travesseiro. E calmamente eu sentia sua mão desembaraçando meu cabelo e sua respiração tentando controlar a minha... e conseguindo.
Com muita força você conseguiu me tirar do carro e me levou no colo até o apartamento. É, eu tinha pegado de volta as chaves que você tinha mas você sempre soube tanto de mim que até do lugar escondido da minha bolsa a chave pulava para sua mão facilmente: você sempre soube tanto de mim. E em nenhum momento sua boca tocou a minha. Mas eu sabia que tudo o que nós tínhamos feito de mal um para o outro estava morrendo ali, junto com meu pai. E hoje você tem de novo a chave do apartamento.


Se alguém me perguntar se homens falam facilmente que gostam eu vou responder com convicção: falam com o silêncio mais óbvio.

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