sábado, 29 de novembro de 2008

Meu carro é minha segunda casa. Nele guardo quase tudo que eu tenho no meu quarto: roupas, CDs, às vezes livros, DVDs, às vezes alguns maços de cigarro, um pequeno travesseiro para emergências. Guardo sob o teto solar as mesmas estrelas que vejo do 4o. andar do meu prédio, e com elas os pensamentos que constantemente me acompanham pelas marginais, Santo Amaro, Moema, Pinheiros, Imigrantes, Interlagos...
Assim como minha cama, meu carro guarda meus segredos, meus choros e meus contentos. Nele não fiz amor, mas obviamente amei muito, assim como não derramei sangue mas já desejei o ódio (mesmo que por rápidos instantes de segundos). Assim como na minha estante, já escrevi conto, poesia e recados mil dentro do meu carro, ora com cerveja, ora com cigarro e sempre com música: a minha trilha sonora toca incansavelmente quando estou na minha segunda casa, rodando entre outras casas, avenidas, bares e esquinas. É minha casa dinâmica, mesmo estando sentado ou deitado estou no mundo, perto de tudo e praticamente de todos que eu quero estar. Bem perto de mim mesmo, às vezes.

O futuro se chama "talvez", o importante é não deixar que isso o assute - Tennessee Williams

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Saio ensaiado, vaiado enquanto caio
depois do passo dado, traio o acaso
Caço o rechaço rasgado no rosto
estampado com o erro crasso guardado no bolso
Castro o desejo com orgasmo lascivo
e vívido o corpo dado espaço
Arranco toque de sentir
Sinto e saio ao reagir
rio e me esbaldo ao prosseguir
e caio, novamente, vaiado ao ruir.
Abraço o próximo e está de bom grado
Me agrado e não mais ao lado
pois é escasso esse agrado
Tenho eu que me dar esse trato
Pois aos lados, o agrado foi descasado.
Destrato.
Fato.
Consumado.

sábado, 22 de novembro de 2008

É incrível como olhos dizem absurdos. É incrível como eu mesmo não consigo enxergar muitas vezes as verdades que os olhos dizem, minha mescla de uma esperança com ingenuidade. E os olhos sempre continuarão a dizer mais do que eu posso interpretar. Graças a Deus: acho que hoje consigo não dar tanto valor à palavras e mais aos olhares, ao toque, às ações. Inclusive as minhas, palavras ditas tantas vezes e claro, tantas quantas sustentadas pelas minhas ações. Eram sinceras em todas as ocasiões, com todas elas.
Não digo que não dói. Meus olhos não me deixam mentir mesmo que fosse meu desejo mais profundo. Mas essa verdade cravada também leva a certeza de que a dor é mais um passo para a evolução e somente os burros não aprendem com isso: seja a nossa dor ou a alheia.
Peço desculpas aos outros blogueiros do Cafeína, não costumo fazer isso mas eu tenho realmente que colocar esta letra. E para os curiosos de plantão, eu não faço menção alguma à minha pessoa. Quem tiver olhos sábios e abertos, saberá.

Waitin', watchin' the clock: it's four o'clock, it's got to stop
Tell him, take no more, she practices her speech
As he opens the door, she rolls over...
pretends to sleep as he looks her over...

She lies and says she's in love with him, can't find a better man.
She dreams in color, she dreams in red, can't find a better man.
Can't find a better man!

Talkin' to herself, there's no one else who needs to know; she tells herself..
Memories back when she was bold and strong
And waiting for the world to come along...
Swears she knew it, now she swears he's gone
She lies and says she's in love with him, can't find a better man
She dreams in color, she dreams in red, can't find a better man
She lies and says she still loves him, can't find a better man
She dreams in color, she dreams in red, can't find a better man
Can't find a better man!

She loved him, she don't want to leave this way
She needs him, that's why she'll be back again
Can't find a better man!



Abramos nossos olhos, todos, todos nós. É a coisa mais sensata a se fazer neste momento.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Gente. Não adianta!
Você pode varrer as sujeiras pra debaixo do tapete.
Você pode embolar tudo e fechar o armário. Mas peraí. Você vai agüentar a bagunça da sua vida até quando?
Você vai fingir que está tudo em ordem pra quê?
Pra inglês ver? Ah, dá um tempo. Eu não sou inglesa.
Eu não vou abrir a porta e ver você se desmoronar.
Por isso, um conselho: limpe sua sujeira. Limpe suas feridas. Limpe sua alma.
Faz uma faxina nesse coração. E - preste atenção - faz isso logo. Porque dá rato.

Eu comecei minha faxina algumas semanas atrás.
Tudo o que não serve mais (sentimentos, momentos, pessoas) eu coloquei dentro de uma caixa e joguei fora.
Sem apego. Sem melancolia. Sem saudade.
A ordem é desocupar lugares, filtrar emoções e fazer Feng-shui na alma.

domingo, 2 de novembro de 2008

Uma vez me perguntaram "homens falam que gostam assim, facilmente?". Eu não soube exatamente a resposta mas me fez parar para pensar. E mulheres, falam que gostam assim, facilmente? E os casados, os pais, os amigos... falam que gostam assim?

Ninguém na verdade fala assim, facilmente. Comumente colocamos as palavras à frente dos nossos reais sentimentos, verbalizando aquilo que estamos pensando e não o que realmente estamos sentindo. E tão comumente quanto, nós demonstramos nosso real sentimento com o toque, com o olhar... Ah o abraço: quantas vezes você foi abraçado por alguém e aquilo valeu mais que todas as palavras ditas durante uma vida inteira?
Aqueles olhares trocados significaram tanto para mim que hoje mudo minha crença pueril nas palavras e me volto para as atitudes. Aquela crença vinha sempre associada a um caráter somado à grande possibilidade das ações completarem tais palavras, porém muitas vezes isso não acontecia. Fui refém de minhas próprias palavras e alguma falta de ação, resultando em sofrimento alheio. Erro crasso: se os políticos abusam da palavra fácil sem ações, porquê confiar tão cegamente?

É fácil meu amigo, é fácil. É fácil dizer, escrever, desenhar coisas quando simplesmente se quer deixar um registro, mas se torna difícil quando nosso corpo não acompanha tal registro recém-publicado e este diz completamente o contrário. É fácil apontar o dedo e dizer "foi você" quando esse mesmo dedo treme de pavor em ser descoberto, assim como é fácil afirmar "está tudo bem" quando nossos olhos marejados se preparam para desabar ao primeiro movimento de esconder o rosto.

Eu passei a gostar de novo de você naquela noite. Saindo do hospital o chão já não era mais uma base e eu caminhava lentamente sem saber o que sustentava meus passos. Gostaria muito que estivesse chovendo para que eu pudesse sentir minha pele contra as gotas, mas não: fazia um calor propício para uma noite com amigos e eu só queria a chuva fria. Chave na porta, luz do teto, senta no banco e fecha a porta. O alarme do carro tocou me fazendo acordar para a realidade e chorar por ter redescoberto ela, e quinze minutos mais tarde veio o segurança dizendo por favor para que eu desligasse o alarme. Eram 02:32 da manhã.
Eu realmente não me lembro como cheguei no meu apartamento... o que lembro? Bem, lembro que quando desliguei o carro, já estacionado, não consegui me controlar e chorei novamente como que tentando extirpar aquela dor só com lágrimas. E você de repente (não sei da onde) entrou no banco do passageiro e me fez pausar o choro instantaneamente. Me encarava com olhos fortes e seguros e ao me tocar e puxar para seu abraço desfez aquela pausa, deixando seu corpo meu travesseiro. E calmamente eu sentia sua mão desembaraçando meu cabelo e sua respiração tentando controlar a minha... e conseguindo.
Com muita força você conseguiu me tirar do carro e me levou no colo até o apartamento. É, eu tinha pegado de volta as chaves que você tinha mas você sempre soube tanto de mim que até do lugar escondido da minha bolsa a chave pulava para sua mão facilmente: você sempre soube tanto de mim. E em nenhum momento sua boca tocou a minha. Mas eu sabia que tudo o que nós tínhamos feito de mal um para o outro estava morrendo ali, junto com meu pai. E hoje você tem de novo a chave do apartamento.


Se alguém me perguntar se homens falam facilmente que gostam eu vou responder com convicção: falam com o silêncio mais óbvio.